O Brasil atravessa um momento de transição político-econômica que exigirá decisões dolorosas, mas necessárias, para assegurar a estabilidade e o crescimento sustentado nos próximos anos. À medida que se aproxima o ciclo eleitoral de 2026, a sociedade e os formuladores de políticas precisam compreender e debater os principais desafios econômicos do país e as reformas estruturais imprescindíveis para evitar que a crise atual se agrave.
O primeiro grande obstáculo é a escassez de recursos públicos, fruto de uma trajetória insustentável de dívida pública que limita a capacidade do governo de investir em infraestrutura, educação e saúde. A elevada relação dívida/PIB gera juros mais altos e compromete parte significativa da arrecadação, inviabilizando novos programas sociais e ampliando a desigualdade.
Além disso, o cenário inflacionário ainda impera em diversos setores, reduzindo o poder de compra das famílias e pressionando índices de pobreza e vulnerabilidade social. O governo federal enfrenta o dilema de equilibrar as contas sem aprofundar o ajuste fiscal a ponto de desencadear uma recessão prolongada.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), espera-se um crescimento do PIB de 2,4% em 2025 e 1,8% em 2026, refletindo tanto a incerteza no cenário internacional quanto a capacidade de consumo das famílias ainda contida. Esse ritmo moderado de expansão não será suficiente para gerar emprego em larga escala, a menos que haja combinações de políticas eficazes.
As projeções setoriais apontam para desempenhos variados: a agropecuária deve liderar com até 8,8% de crescimento em 2025, sustentada por exportações fortes e clima favorável; os serviços devem crescer 1,9% em 2025 e 1,7% em 2026; já a indústria deve registrar expansão de 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026, impulsionada por uma recuperação gradual da demanda interna.
O consenso entre economistas e especialistas aponta para a necessidade de reformas profundas que restaurarão a confiança dos investidores e amortecerão o risco de colapso fiscal. Em primeiro lugar, a reforma previdenciária deve ser ajustada para garantir sua sustentabilidade a longo prazo, reduzindo déficit e promovendo justiça geracional.
Em seguida, a reforma administrativa pode otimizar a máquina pública, cortando gastos desnecessários e introduzindo mecanismos de avaliação de desempenho. Simultaneamente, um modelo de imposto sobre valor agregado (IVA) que isente investimentos e exportações pode aumentar a competitividade e simplificar a tributação, reduzindo custos para empresas e consumidores.
O calendário eleitoral de 2026 representa uma incógnita para o rumo das políticas públicas. Independentemente do resultado, pressões por mudanças nas políticas públicas serão intensas, pois a sociedade cobrará respostas rápidas para a crise econômica e as desigualdades persistentes.
O próximo presidente e o Congresso Nacional precisarão estabelecer um pacto de governabilidade que permita a aprovação de propostas impopulares, porém indispensáveis. O diálogo entre Executivo, Legislativo e sociedade civil será vital para criar um ambiente de estabilidade institucional e confiança nos mercados.
Sem essa articulação, o país corre o risco de oscilar entre agendas contraditórias, aumentando a volatilidade econômica e política. O desafio será encontrar pontos de convergência em torno de prioridades como saúde, educação e redução de desigualdades.
Apesar das adversidades, o Brasil dispõe de pontos fortes que podem ser explorados. A matriz energética, predominantemente renovável, oferece base sólida para acelerar a transição para fontes limpas. Investir em energia solar, eólica e bioenergia reduzirá emissões e atrairá investimentos verdes.
Adicionalmente, o investimento em ciência e tecnologia pode impulsionar setores de alto valor agregado, como biotecnologia, software e economia criativa, gerando empregos qualificados e aumentando a produtividade.
Para que essas oportunidades se concretizem, é imprescindível que o poder público crie um ambiente regulatório estável, com segurança jurídica e incentivos claros. A convergência entre interesses públicos e privados poderá acelerar projetos que hoje se arrastam por anos em burocracias.
Em síntese, o Brasil pós-eleitoral de 2026 precisa enfrentar a dura realidade fiscal e, ao mesmo tempo, apostar em reformas e investimentos que reforcem a competitividade e a inovação. Somente assim será possível destravar o potencial de crescimento, gerar empregos e promover justiça social, garantindo um futuro mais próspero para as próximas gerações.
Referências