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Debêntures ganham força em projetos de infraestrutura

Debêntures ganham força em projetos de infraestrutura

06/08/2025 - 09:10
Marcos Vinicius
Debêntures ganham força em projetos de infraestrutura

Em um cenário de urgência para modernizar estradas, portos, aeroportos e sistemas de saneamento, as debêntures surgem como instrumento estratégico para mobilizar recursos e acelerar obras essenciais. Inspiradas em modelos internacionais, essas emissões de dívida têm conquistado espaço no Brasil, propondo uma alternativa ao financiamento bancário tradicional e demonstrando, na prática, como o mercado de capitais pode impulsionar o desenvolvimento nacional.

Este texto oferece um panorama completo sobre as principais categorias de debêntures, os números que comprovam seu crescimento, o papel dos agentes envolvidos, as mudanças regulatórias recentes e os desafios que ainda precisam ser superados para consolidar esse instrumento no país.

Definição e tipos de debêntures

As debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas que desejam captar recursos no mercado de capitais, estabelecendo prazos e condições de pagamento diretamente com investidores. No âmbito da infraestrutura, destacam-se duas modalidades:

1. Debêntures incentivadas: criadas para viabilizar projetos de longo prazo, oferecem isenção fiscal atraente a investidores e reduzem o custo de captação. Tornam-se vantajosas para empreendimentos como rodovias, ferrovias, usinas de energia e sistemas de tratamento de água.

2. Debêntures de Infraestrutura (Lei 14.801/2024): especificamente voltadas a projetos-chave definidos pelo governo, como energia renovável, saneamento básico e mobilidade urbana. Embora ainda sem emissões concretas até abril de 2025, essa categoria pretende atrair fundos de pensão e investidores institucionais de grande porte.

Juntas, essas opções apresentam flexibilidade de prazos e estrutura de desembolso que acompanham o avanço das obras, criando um alinhamento direto entre o cronograma físico e as condições financeiras do projeto.

Números do mercado

Os indicadores de emissão revelam uma curva ascendente notável. Entre janeiro e maio de 2025, foram captados R$ 62,5 bilhões em debêntures incentivadas, representando um crescimento de 39,3% em relação ao mesmo período de 2024. Em 2024, o volume registrado chegou a R$ 132 bilhões, marcando um recorde histórico.

  • Em 2024: recorde de R$ 132 bilhões em emissões.
  • Últimos 12 meses até março de 2024: R$ 83,1 bilhões, triplicando o valor desde 2018.
  • Prazo médio das debêntures: 13,2 anos, demonstrando sua vocação para financiamento de longo prazo.

A distribuição setorial reflete equilíbrio e diversificação de riscos. Confira a seguir a participação de cada segmento:

Esse cenário ilustra não apenas o apetite do mercado por projetos estruturantes, mas também a maturidade crescente do investidor em avaliar riscos e retornos a médio e longo prazo.

Papel dos principais agentes

O BNDES reafirma seu compromisso com a infraestrutura ao multiplicar por dez o volume de recursos aplicados desde 2021 e aprovar R$ 80 bilhões para 2025. A instituição conta com mecanismos inovadores, como as debêntures faseadas, desembolso gradual por etapas, garantindo que o capital seja liberado conforme o progresso dos contratos.

As fundações de pensão, detentoras de R$ 1,2 trilhão em patrimônio, configuram-se como investidores ideais para debêntures de longo prazo. Embora ainda não tenham aderido às emissões da nova categoria, espera-se que, em breve, ocupem posição de destaque nesse segmento, reforçando a estabilidade financeira dos projetos.

No varejo, pessoas físicas respondem por apenas 8% das aquisições de debêntures incentivadas, mas a ampliação de canais de distribuição e o aumento da divulgação podem elevar esse índice, democratizando o acesso a investimentos de infraestrutura.

Mudanças regulatórias e seus efeitos

A Portaria nº 201/2025 possibilitou a reemissão de debêntures, conferindo a concessionárias a chance de substituir títulos com juros elevados por títulos novos com custo mais baixo. A medida visa reduzir encargos financeiros e liberar caixa para reinvestimentos em manutenção e expansão.

Já o decreto nº 11.964/2024 definiu critérios para conceder benefícios fiscais apenas a projetos comprovadamente rentáveis, buscando proteger o Tesouro e assegurar que os incentivos sejam destinados a iniciativas capazes de gerar retorno sustentável.

Paralelamente, discute-se no Congresso a retirada da isenção para pessoas jurídicas, o que poderia desestimular grandes investidores e comprometer a captação de recursos para rodovias, aeroportos regionais e saneamento, setores em que a rentabilidade muitas vezes depende de prazos mais longos.

Vantagens e motivos para a demanda

  • Liquidez superior à de financiamentos bancários, permitindo maior mobilidade de recursos.
  • Isenção fiscal para investidores, ampliando a rentabilidade líquida.
  • Adequação do cronograma de pagamento ao avanço físico do projeto.
  • Fortalecimento do mercado de capitais como fonte de recursos de longo prazo.

Esses fatores geram um ciclo virtuoso: quanto mais projetos bem-sucedidos são financiados via debêntures, maior a confiança dos investidores e mais atrativo se torna esse instrumento para futuras emissões.

Tendências e desafios futuros

  • Leilões de rodovias previstos para 2025, com expectativa de R$ 200 bilhões em contratos assinados.
  • Entrada gradual de fundos de previdência e investidores internacionais, ampliando o leque de compradores.
  • Aprimoramento de normas para reforçar a segurança jurídica e mitigação de riscos.
  • Monitoramento de propostas tributárias que possam afetar negativamente a atratividade das debêntures.

O sucesso dessa estratégia dependerá da capacidade dos reguladores e do mercado em dialogar para ajustar regras, equilibrar interesses e garantir transparência na execução dos projetos.

Considerações finais

A experiência internacional demonstra que debêntures têm papel decisivo no financiamento de infraestrutura, especialmente quando incorporam práticas sólidas de governança e avaliação de riscos. No Brasil, a combinação de inovação regulatória e maturidade dos agentes de mercado cria um ambiente propício para consolidar esse modelo.

Alcançar investimentos anuais de até 4,5% do PIB — equivalente a cerca de R$ 480–520 bilhões — é um desafio ambicioso, mas viabilizado pela articulação entre Estado, setor privado e mercado de capitais. As debêntures podem ser o fio condutor dessa transformação, unindo eficiência financeira e impacto social.

Com cada nova emissão bem-sucedida, o país dá um passo em direção a uma infraestrutura moderna e sustentável, capaz de impulsionar o crescimento, gerar empregos e melhorar a qualidade de vida de toda a sociedade.

Marcos Vinicius

Sobre o Autor: Marcos Vinicius

Marcos Vinicius