No complexo tabuleiro do comércio internacional, cada movimento cambial pode decidir o futuro financeiro de uma exportadora. Em 2025, o Brasil mostra que saber aproveitar a relação entre real e dólar é mais do que estratégia: é uma vantagem competitiva decisiva.
Entre janeiro e maio de 2025, o Brasil atingiu US$ 136,9 bilhões em exportações, valor praticamente estável ante o mesmo período de 2024. Esse resultado reflete a resiliência dos setores produtivos frente a um ambiente externo ainda instável.
Os gigantes do agronegócio e da mineração continuam no topo, liderando uma pauta de exportações que confirma a vocação natural brasileira para commodities de alto valor agregado. A seguir, os principais itens que sustentam esse desempenho:
Essas cifras não apenas demonstram a força das exportações brasileiras, mas também preparam o terreno para um ano que pode superar a marca de US$ 358,8 bilhões em vendas externas, segundo projeções oficiais.
Quando o real se desvaloriza de forma controlada, as exportadoras obtêm maior retorno sobre cada dólar exportado. Isso porque o valor das mercadorias em reais sobe, tornando-as financeiramente mais atrativas em comparação a produtos de países com moeda mais valorizada.
O impacto é duplo: por um lado, aumenta a demanda internacional por ingredientes e insumos brasileiros; por outro, fortalece a margem de lucro ao converter receitas em moeda local. Segundo estimativas, as exportações em 2025 devem gerar um superávit de US$ 93 bilhões, cenário incentivado por essas condições cambiais.
A relação entre câmbio e competitividade, no entanto, vai além da simples cotação do dólar. Envolve visão macroeconômica e capacidade de reagir rapidamente a oscilações, ajustando preços, volumes e estratégias de venda conforme o mercado global evolui.
Muitas empresas ainda convertem dólares em momentos desfavoráveis para o câmbio, o que pode gerar perdas entre 2% e 5% do faturamento anual. Em valores absolutos, trata-se de até US$ 250 mil em prejuízo para uma companhia com receita de US$ 5 milhões.
Essa prática decorre principalmente da falta de autonomia para gerir recursos, obrigando as exportadoras a internalizar imediatamente o câmbio. A ausência de flexibilidade limita a adoção de hedge cambial e outras técnicas de proteção.
Para ilustrar, imagine uma indústria de alimentos que fecha contratos em dólar para vender matéria-prima em junho. Se a empresa fosse capaz de aguardar uma leve alta do dólar em agosto, converte uma receita de US$ 1 milhão em 5,50 reais, em vez de 5,20, aumentando seu caixa em 300 mil reais.
Em todos esses segmentos, o custo de produção e logística é registrado em reais, enquanto a receita caminha em dólar, criando um excedente operacional verdadeiramente significativo quando o câmbio está alinhado com o desempenho das commodities.
Além disso, grandes players do setor de celulose relatam aumento de margem de até 15% em função da valorização da moeda norte-americana associada a um real mais competitivo.
Um câmbio favorável pode, por vezes, sinalizar desequilíbrios internos, como inflação alta, déficits fiscais e incertezas políticas. Esses fatores elevam o risco de reversão brusca do cenário cambial, prejudicando empresas que não estejam preparadas.
A volatilidade do câmbio permanece alta, especialmente em contextos de tensões geopolíticas e crises globais. Para mitigar esse risco, exportadoras devem complementar a gestão do caixa com instrumentos financeiros como contratos futuros e opções.
Outra preocupação são os custos de insumos importados. Máquinas, equipamentos e tecnologia advêm de fornecedores estrangeiros, e um real desvalorizado encarece esses recursos, impactando negativamente o custo total de produção.
Treinar equipes internas para monitorar indicadores econômicos, revisar frequentemente projeções de fluxo de caixa e estabelecer limites de exposição cambial são práticas essenciais para quem deseja proteger margens.
Adicionalmente, estabelecer parcerias com bancos e corretoras renomados garante acesso a plataformas mais eficientes para execução de operações cambiais e minimiza custos operacionais.
Uma fabricante de máquinas agrícolas no interior de São Paulo adotou políticas de hedge em 2024 e garantiu venda de equipamentos em dólar a taxa fixa, evitando perdas de 4% mesmo após uma forte desvalorização do real. O impacto no EBITDA foi positivo, elevando lucro em reais e reforçando a estratégia de proteção.
No setor de alimentos, uma empresa paulista optou por converter apenas 50% dos seus recebíveis em dólar imediatamente, guardando o restante para períodos de maior valorização. Essa tática rendeu um acréscimo de 200 mil reais no primeiro semestre de 2025.
As projeções indicam que 2025 continuará marcado por desafios macroeconômicos, mas também por oportunidades de crescimento para exportadoras. Commodities em alta no mercado internacional e perspectivas de dólar forte devem sustentar as vendas externas brasileiras.
O caminho para extrair valor máximo do câmbio envolve tecnologia, capacitação e relacionamento próximo com instituições financeiras. Com essas ferramentas, as empresas estarão mais preparadas para transformar volatilidade em vantagem competitiva.
Ao fortalecer a gestão financeira e adotar uma visão estratégica, as exportadoras brasileiras podem garantir ganhos sustentáveis, contribuindo para o crescimento econômico e a geração de empregos no país.
Em síntese, um câmbio favorável não é apenas uma condição externa, mas uma oportunidade de ouro para quem sabe articular conhecimento, planejamento e execução eficiente.
O Brasil possui potencial único de liderar o comércio global de commodities e produtos industriais, desde que as empresas adotem práticas sólidas de gestão cambial e visão de longo prazo.
Referências