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Empresas listadas se adaptam a demandas ESG

Empresas listadas se adaptam a demandas ESG

14/05/2025 - 01:25
Fabio Henrique
Empresas listadas se adaptam a demandas ESG

As empresas brasileiras listadas na B3 vivem um momento histórico de transformação. Movidas pela convergência entre a pressão de investidores globais, as expectativas da sociedade civil e as novas diretrizes regulatórias da CVM, essas organizações estão redesenhando suas estratégias para incorporar compromissos socioambientais e de governança. O ESG deixou de ser apenas um item complementar em relatórios e passou a ser um componente central no planejamento de longo prazo.

Caminhar nessa estrada requer não somente adaptar processos internos, mas também convicção de que a sustentabilidade, aliada à transparência, pode gerar valor consistente para acionistas e para a própria reputação corporativa. Esse movimento é motivado tanto por mudanças internacionais nos padrões de investimento responsável quanto por iniciativas domésticas que buscam dar maior transparência às operações corporativas.

Contexto e regulamentação

Nas últimas décadas, práticas ESG deixaram de ser um diferencial voluntário e assumiram caráter obrigatório em muitos mercados maduros. No Brasil, esse processo começou a ganhar fôlego com a criação do ISE B3 e outras iniciativas de autorregulação, mas agora avança rumo a exigências legais mais rígidas.

A partir de 2025, entra em vigor o novo modelo ‘pratique ou explique’, que obrigará as companhias a detalhar, em formulário oficial, quais ações sustentáveis realizam e justificar eventuais lacunas. Além dessa obrigação, as empresas precisarão eleger membros específicos no conselho de administração ou diretoria executiva voltados para temas de governança, sustentabilidade e meio ambiente.

Essencial para internalizar boas práticas, essa mudança visa assegurar que o ESG tenha representante permanente nas decisões mais estratégicas da organização. Instituir comitês dedicados fortalece o diálogo entre diferentes áreas e melhora a capacidade de responder com agilidade a riscos climáticos, sociais e reputacionais.

Desempenho e reconhecimento

Os resultados práticos dessa evolução não tardaram a aparecer nos principais índices de sustentabilidade. Em 2025, 11 empresas brasileiras foram incluídas no Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World), destacando nomes como Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Petrobras, Klabin e Telefônica.

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) reúne mais de 40 setores diferentes, sinalizando que o compromisso ESG já está presente em quase toda a economia brasileira. Em paralelo, o reconhecimento internacional se reflete na lista da TIME dos ‘Melhores do Mundo Sustentáveis’ de 2025, que inclui 46 organizações nacionais em posições de destaque.

Estratégias corporativas de destaque

Para atender às demandas crescentes, as organizações estão desenhando rotas inovadoras que unem performance econômica e impacto positivo. No centro desse movimento, projeta-se um cenário em que empresas realinham processos produtivos, aumentam a eficiência energética e buscam fontes renováveis de energia. Internamente, programas de diversidade e inclusão ganham força, enquanto metas ESG passam a fazer parte das metas anuais de cada departamento.

  • Implementação de práticas alinhadas à eficiência energética com fontes renováveis;
  • Promoção de diversidade nos conselhos de administração e políticas de inclusão;
  • Estabelecimento de metas claras que ligam desempenho ESG à remuneração executiva.

Exemplos práticos ilustram como a adoção dessas medidas traz resultados concretos. Rumo, líder em logística, combina soluções de baixo carbono ao transporte ferroviário, reduzindo emissões e otimizando custos. Equatorial, que estreou no ISE B3 em 2024, investe em modernização de redes elétricas e em programas sociais que atendem comunidades locais.

A entrada de companhias tradicionalmente pesadas em carbono, como Petrobras, em índices internacionais, demonstra que não há mais espaço para distinções fechadas entre setores “verdes” e “convencionais”.

Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, vários obstáculos ainda desafiam o progresso do ESG no Brasil. A coordenação entre áreas é complexa, a escassez de dados padronizados dificulta comparações e há o risco de práticas superficiais, conhecidas como greenwashing. Adicionalmente, a transição para uma economia de baixo carbono depende de investimentos robustos e de um ambiente regulatório estável.

  • Necessidade de maior exigência regulatória e acompanhamento externo para evitar greenwashing;
  • Risco de isolamento em carteiras de investimento sem viés sustentável;
  • Concorrência acirrada e pressão de fundos globais por entregas mensuráveis.

Para driblar esses desafios, gestores precisam adotar uma perspectiva de longo prazo, investir em tecnologia e engajar stakeholders internos e externos. A transparência na divulgação de indicadores, aliada à verificação por auditores independentes, fortalece a credibilidade dos relatórios.

Além disso, capacitar lideranças e equipes é fundamental para promover uma mudança de mindset, onde a sustentabilidade deixa de ser vista como custo e passa a ser percebida como fonte de inovação e vantagem competitiva.

Conclusão

O movimento ESG consolida-se como um vetor essencial para a competitividade das empresas listadas na B3. Aqueles que abraçam a sustentabilidade em sua essência não apenas atraem investimentos qualificados, mas também constroem relacionamentos mais fortes com clientes, fornecedores e colaboradoras. A capacidade de reposicionar processos, cultura e modelo de negócios em sintonia com o meio ambiente e a sociedade tornará essas companhias mais resilientes diante de crises e oscilações de mercado.

Adotar a sustentabilidade em todas as frentes não é apenas uma necessidade ética, mas uma estratégia de sobrevivência e prosperidade. Com o avanço do modelo 'pratique ou explique' e das metas alinhadas a indicadores internacionais, o Brasil tem a oportunidade de se afirmar como polo de inovação responsável. Mais do que cumprir exigências, as empresas podem inspirar uma transformação cultural que reverberará para clientes, comunidade e gerações futuras.

Fabio Henrique

Sobre o Autor: Fabio Henrique

Fabio Henrique