Em um mundo em constante transformação, manter uma visão ampla de mercado é fundamental para empresas, regiões e economias nacionais. Focar exclusivamente em um único setor pode oferecer ganhos rápidos, mas também expõe a fragilidade diante de crises, mudanças tecnológicas e oscilações globais.
Concentração setorial refere-se à alocação de recursos financeiros, produtivos e estratégicos quase que exclusivamente em um único segmento econômico. Essa prática pode ser observada em empresas altamente especializadas ou em regiões cujo modelo de desenvolvimento depende fortemente de uma única atividade, como extrativismo, tecnologia ou agricultura intensiva.
Quando a economia de uma região gira em torno de poucas indústrias, vulnerabilidade a choques externos se torna inevitável. A falta de alternativas faz com que qualquer crise específica reverbere de forma dramática na balança social e econômica.
Entre 2009 e 2018, o Brasil apresentou elevação na concentração de alguns setores-chave. A indústria extrativa passou de 67,7% para 74,0%, enquanto a indústria de transformação subiu de 20,4% para 22,3%. Esses números indicam um cenário de especialização crescente, especialmente em atividades ligadas a petróleo e gás natural, que mantiveram 88,8% de concentração em 2018.
Em contrapartida, segmentos como a extração de minerais não metálicos mantiveram menor concentração (20,1%), revelando caminhos para diversificação.
No recorte regional, o Sul aumentou sua participação na indústria nacional de 12% para 16,3%, mas ainda enfrenta o desafio da desconcentração centralizada em São Paulo, que detém o controle financeiro e decisório predominante.
Esses riscos não ocorrem isoladamente: eles se potencializam em um círculo vicioso de queda de investimentos, perda de talentos e crise social.
Estudos apontam que setores de alta tecnologia, embora atraentes, apresentam maior grau de concentração. A ZFM (Zona Franca de Manaus) e polos industriais no Nordeste, por exemplo, demonstram sucesso parcial na atração de investimentos, mas não alteram significativamente a hegemonia econômica de centros já consolidados.
A evolução recente mostra redução moderada ou estabilidade em muitos segmentos, evidenciando que políticas de diversificação podem produzir resultados quando bem direcionadas e sustentadas ao longo do tempo.
Ao implementar essas estratégias, gestores públicos, empresários e investidores colaboram para construir um ambiente econômico mais equilibrado e apto a resistir a choques externos.
Economias como a da Alemanha e do Canadá mostram que a combinação de indústrias avançadas, setor de serviços robusto e políticas de inovação promove ciclos estáveis de crescimento. Em contraste, a dependência do petróleo no Oriente Médio e do automóvel em Detroit nos EUA evidenciam os riscos de escolhas monosectoriais.
Esses exemplos internacionais reforçam a importância de um olhar estratégico de longo prazo, baseado em monitoramento constante de indicadores e flexibilidade para redirecionar investimentos.
Evitar a concentração excessiva em um único setor é um desafio estratégico que exige ação coordenada entre setores público e privado. Realizar análises periódicas, promover a diversificação de investimentos, incentivar a pesquisa e desenvolver políticas regionais específicas são passos fundamentais para a construção de uma economia mais resistente.
À medida que se multipliquem exemplos de sucesso na diversificação, cria-se um ciclo virtuoso de inovação, geração de empregos e sustentabilidade ambiental. Dessa forma, todos os atores econômicos ganham: do pequeno empreendedor à grande corporação, da comunidade local ao país como um todo.
Referências